12 de Ches de 1377 - O Ano da Assombração
“Boa noite, amigo. Perguntas-me muito sobre minha vida, e se é o que desejas saber, então contar-te-ei o princípio de minha jornada, que por enquanto possui poucas horas. Deixe-me começar então, não tomarei muito do teu tempo... Nasci em uma cidade média de Thay, a cidade era governada pelos meus pais e mais alguns membros da aristocracia thayana. A cidade é reconhecida em toda Thay por revelar com frequência grandes magos entre suas crianças, e é grande exportadora de itens mágicos. Tive uma infância comum às pessoas comuns. E, desde pequeno, apesar da influência de meus pais e meu irmão mais velho, um mago vermelho que faz pesquisas na capital, sou contra a Magocracia de Thay, e todos esses idiotas magos vermelhos, seus sentimentos egoístas e sua prepotência infantil! Perguntas o porquê da revolta? Explicar-te-ei agora...
Quando completei 10 anos, como de praxe, fui enviado a uma escola de magos, para saber do meu potencial como um. Porém, apesar de meus poderes como feiticeiro, o teste não revelou em mim qualquer tendência à magia. E eu ainda me lembro de quando levaram minha melhor amiga, Sarah. O teste dela a apontou com grande tendência à feitiçaria, e ele foi expulsa de Thay, sem a menor explicação a parentes e amigos. Na época eu não entendi nada, mas com o passar do tempo, e com a convivência de meu irmão do meio, Zack, aprendi várias coisas sobre Thay, Toril, alguma ou outra religião, histórias do mundo, itens maravilhosos e até mesmo sobre monstros.
Zack é uma grande pessoa, hoje, francamente, acredito que ele seja mais inteligente que meu pai, ele é um aventureiro de bom coração, coisa que, às vezes, eu mesmo sinto que não sou. Onde Zack está? Se eu soubesse estaria ao lado dele, praticando boas ações e conhecendo o mundo afora. Alguns dias antes de fugir recebi uma carta sua, e pelo que parece ele está maravilhado com todas as coisas, entretanto sente saudades de casa, coisa que acho que nunca irá acontecer comigo.
Continuando, eu estudava regularmente na biblioteca da nossa cidade, apesar de meu pai não gostar que eu fique perambulando pelas ruas da cidade. Nunca entendi, porque ele, como governador, deveria dar um jeito nessas coisas, para que todos possamos sair quando for o nosso desejo, não achas? Hoje eu sei que o medo de meu pai era outro.
Aos 14 anos, eu fiquei assustado quando acordei à noite e fui à cozinha pegar uma fruta para comer, quando, sem mais nem menos uma maçã começou a brilhar. Eu fiquei, primeiramente, bastante assustado, e não havia ninguém ali, pois meus pais estavam numa reunião de magos. Eu não dormi mais aquela noite. Não sabia o que aquilo significava e tinha medo de contar a meus pais o acontecido, sabe-se lá o que eles fariam...
Passei dois dias trancado quarto, sem comer, nem beber nada. A única coisa que me tirou do quarto foi Zack, que chegara de uma aventura nas fronteiras de Thay. Enfim tinha alguém em quem confiar.
Contei-lhe do acontecido, Zack também não entendeu, e disse que provavelmente era uma brincadeira de mau gosto de algum pirralho metido a mago, e disse que ele mesmo já foi alvo de coisas do tipo. Aconselhou-me a voltar a estudar, dizia que meus pais estavam bastante aflitos e não sabiam mais o que fazer. Então, eu segui os conselhos de meu irmão. E em poucos dias conseguir fingir muito bem que havia esquecido.
Foi numa bela manhã, eu estava indo ao mercado, comprar objetos para costurar um livro que faltava pedaços. De repente minhas mãos começaram a ficar frias, eu não sabia o que estava acontecendo. Um frio me subiu a espinha e um raio de gelo saiu da ponta do meu dedo indicador, direto numa rosa. Ela se congelou quase instantaneamente. A moça que a segurava se assustou e soltou a rosa, que quando caiu no chão se espatifou em milhares de pedaços.
Todos na rua assistiram àquela cena, alguns me apontavam como o causador daquela coisa bizarra. Então, eu fugi. Corri como nunca pensei que conseguiria, corri para onde minhas pernas me guiavam.
Cheguei a uma praça vazia, sentei-me, e fiquei a olhar aquela fonte, que sempre adorei, desde criança quando brincava com Sarah, em cima daquela estátua em forma de grifo. Infelizmente, algumas coisas ficam apenas na memória. E então comecei a pensar.
Como os poderosos magos vermelhos conseguiram se enganar?
Eu sei a resposta. É bem simples: eles não estavam enganados. Apenas foram manipulados.
O meu teste não revelara tendências à magia porque ele fora trocado. Trocado pelo teste de Sarah. Sim! Meus pais, eles, os únicos capazes de fazer tal coisa.
Não tente defendê-los, eu teria feito o mesmo, mas não trocaria o meu teste pelo de Sarah, pobre coitada, agora ela está perdida nesse mundo, e é meu dever, minha razão de vida, encontrá-la novamente.
Agora estou cansado. Fugi anteontem daquele inferno que é Thay.
Meus pais devem comandar a cidade, ainda. Isso não mudará tão fácil, pois eles são poderosos e influentes o bastante. Meu irmão mais velho, Khalim, também já é bastante influente, apesar de novo, suas pesquisas só enriquecem os magos vermelhos.
Ótimo! Adorável essa sua canção. Só algo assim para me acalmar, pois comigo carrego apenas minhas armas, uma carta de Zack e dois amuletos, um que ganhei de presente de Sarah, e outro com a foto de meus pais. Não, Khalim é bastante ganancioso para me esquecer dele, e bastante egoísta para querer me recordar.
É tarde, amigo. Amanhã é um novo dia, sempre.
Boa noite.”