A Investida Goblin (parte 2)

...continua...


"Enquanto corria em direção à caravana que estava prestes a ser atacada pelos goblins, conjurava mais um míssel mágico. Apesar de toda a confusão ao redor consegui me concentrar o suficiente nos movimentos e nas palavras mágicas. A flecha roxa saiu da palma da minha mão e logo acertou um goblin. Ele capotou. O que estava a seu lado se virou pra mim, olhou para o chão e então empunhou sua maça e ficou me esperando. O terceiro continuava correndo, estava muito próximo das carroças, os cavalos já perceberam que havia algo de diferente ali e começavam a ficar inquietos.
Meu braço estava muito ferido, eu empunhava a lança com dificuldade, porém corri com o olhar fixo no goblin que me esperava. Tudo aconteceu tão rápido, e não sei como ele fez aquilo, eu estava com a lança apontada em seu tórax, mas num piscar de olhos o goblin jogou-se para a esquerda, e num contra-golpe acertou minha perna com a maça. Eu caí no chão gritando de dor e desmaiei inconciente.
Quando acordei, já era noite. Estava numa cama, uma lanterna iluminava o quarto, que era pequeno, mas bem arrumado. Olhei para os lados, não havia ninguém mais no quarto, e meus pertences estavam todos sobre uma mesa no canto do quarto, junto com uma gaiola no chão e o pequeno falcão. Tentei me levantar, mas sentia muita dor e o máximo que consegui foi sentar-me na cama. Não fazia idéia do que acontecera depois, nem mesmo como fui parar ali. Mas estava muito cansado para fazer alguma coisa, logo voltei a dormir."
Julius Galaonodel

A Investida Goblin (parte 1)

17 de Ches de 1377

"Não tenho muitas boas palavras para descrever o dia de hoje. Quaisquer palavras que tente dizer acabam por me deixar furioso, emocionado, triste, com um remorso que rói meu coração, e me deixam solitário, como jamais estive antes.
No início do dia tomei leite e comi pão com os mercadores, Richguen estava muito animado, porque dizia ele que nunca teve um amigo mago antes. Eu tentei explicar que não era realmente um mago, mas sou, na verdade, um feiticeiro, porém ele não me deu muito ouvidos. Estava mais interessado em me perguntar sobre meus poderes, pedia para fazer magias, pequenos truques. Eu o diverti por algum tempo, e logo Josh e Harold avisaram que era hora de partir. Richguen me ofereceu carona até a próxima cidade, eu subi na sua carroça e fui ao seu lado.
Rosset havia me dado uma gaiola para meu falcão. Ela ficava a meu lado na carroça, o falcão era tão pequeno ainda. Eu precisava de algum veterinário rapidamente, por isso, também, estava ansioso para chegar na cidade.
Mas antes que pudessemos chegar na cidade...
Josh sempre andava na frente da caravana, ele avistou algo de estranho mais a frente, e foi verificar o que era. Harold permanecia ao lado da caravana, enquanto Josh não voltava. Richguen perguntou o que estava acontecendo quando Harold passava por sua carroça, creio que desde já ele teve um pressentimento ruim. Depois disso ele disse a mim, bastante sério e um pouco assutado: "Julius, meu jovem, eu confio em você como confiaria num filho, se tivesse um... Por favor, se algo acontecer comigo, venda os meus pertences, leve meu dinheiro a minha esposa e filha... Elas não merecem mais viver na pobreza. Posso confiar a você esta missão, Julius?" Fiquei sem palavras no momento. Ele olhou fundo nos meus olhos, eu estava mais assustado do que ele, e então ele completou: "Sabia que poderia contar contigo, filho..." e sorriu.
Quando essas coisas acontecem, sabemos que não é por acaso. E eu sabia que os deuses planejavam algo para hoje, até o céu havia fechado e a manhã era cinzenta e os pássaros só cantavam ao longe.
Josh gritou algo, que ninguém conseguiria escutar. Então Harold mandou que parássemos os cavalos. Logo desci da carroça e pedi para Richguen se esconder dentro dela: "Aí é mais seguro, Richguen. Vou ver do que se trata". Desci com minha lança empunhada, fui em direção à Harold, que estava em posição de batalha. "Cuidado feiticeiro, eles estão voltando. E agora vêm em um bom número!", disse ele enquanto me aproximava, não entendi de quem estava falando. No entanto nem precisei perguntar, pois já ouvia os gunhidos e gritos assustadores dos goblins que se escondiam na mata.
Josh cavalgava rapidamente de volta as carroças e antes que chegasse três flechas quase o acertaram. Ele desceu do cavalo e apontou para a mata, gritando "Malditos goblins! Vão experimentar novamente o gosto do aço!". Harold estava apenas esperando, "Ajude o Josh, eu fico aqui para proteger os mercadores", ordenou Harold, então empunhei minha lança, enchi o peito de ar, e pedi a Mystra que guiasse minha magia naquele momento. "E tenha cuidado, garoto."
À medida que me aproximava, flechas voaram em minha direção, por sorte nenhuma me atingiu. Parei por um momento e conjurei Armadura Arcana, uma magia defensiva que ceramente me ajudaria bastante. Senti o couro da minha roupa se tornar rígido, apesar de não conseguir ver nenhuma armadura em volta de mim, sabia que lá ela estava. Continuei correndo depois disso, e três goblins armados com maças saíram da mata em minha direção. Assim que os vi conjurei Mísseis Mágicos, e novamente a flecha roxa e brilhante saiu da palma da minha mão acertando o peito do goblin, que caiu para trás. Os outros dois porém continuaram correndo.
Quando eles chegaram perto o suficiente, não tive mais como conjurar magias, a presença deles me aterrorizava. Um deles girou sua maça por cima da cabeça e acertou meu braço esquerdo. Nunca senti uma dor tão aguda como aquela, gritei de dor, mas logo tive que me recompor, pois o outro se preparava para me acertar, consegui dar um passo para trás e ele afundou sua maça no chão. Então aprontei minha lança e finquei no pescoço do primeiro goblin. Seu sangue jorrou no chão, ele caiu morto. E eu pude me vingar pelo braço ferido.
O outro goblin tentou me acertar de novo, mas sua maça bateu na minha armadura arcana e não a perfurou. Ele fitou-me com fúria, acho que era pra disfarçar o medo, já que ele tinha usado toda a força naquele ataque e minha armadura era invisível. Aproveitando o descuido do goblin eu acertei seu abdômem com a lança, ele gritou de dor, porém ainda estava de pé.
O goblin agora tentou acertar meu braço ferido, por sorte consegui jogar o corpo para trás, e ele me acertou de raspão. Não vou mentir, mesmo esse ataque de raspão doeu muito, sentia meu braço latejar de dor, e o sangue escorrer pelos meus dedos. Enchi meus olhos de fúria e acertei o peito do goblin, que caiu para trás desacordado.
Tive um tempo para respirar. Olhei para frente, não parecia que mais goblins viriam em minha direção. Olhei para os lados e havia mais um grupo de goblins correndo. Harold e Josh combatiam com dois goblins cada um. Não sei de onde saíram tantos goblins assim! Meu braço latejava, eu me apoiava na lança, virei para trás e vi que mais três goblins estavam muito próximos da caravana. Tive uma sensação muito terrível, meu coração gelou, não quis mais pensar e comecei a correr para detê-los..."

...continua...

A Caravana

16 de Ches de 1377
"Hoje o dia foi tumultuado. Ainda estou um pouco elétrico com todas as coisas que aconteceram, e creio que amanhã poderei almoçar numa taverna.
Logo quando acordei, enquanto comia minha ração, escutei uns barulhos estranhos, que estavam vindo de algum lugar próximo a uma árvore. Fiquei intrigado com o barulho e fui perto procurar. A medida que ia me aproximando do que quer que fosse, o barulho aumentava. Depois percebi que era um animalzinho, um pássaro, acredito que um falcão. Ele é bem pequenino, e estava assustado, não deve ter tido sorte hoje, coitado. Eu me aproximei com cuidado, ele tentou fugir mas não conseguia voar. Depois que ele percebeu que seria inútil, pude me aproximar e passei a mão sobre a cabeça dele. Ofereci um pouco da minha ração pra ele, e, não sei porquê, resolvi trazê-lo comigo. Eu já ouvi dizer que todo mago que se preze possui um familiar, que é um animal que o segue, estes serão grandes amigos que possuirão um vínculo mágico. Pensei que talvez esse pequeno falcão pudesse ser meu familiar. Ele parece ser simpático e ter gostado de mim.
Mas isso foi só antes do almoço.
Passei o dia cavalgando no jegue do bardo, e a tarde, por um caminho adjacente, avistei ao longe uma caravana de mercadores, muito provavelmente estavam voltando da capital e sairiam de Thay. Diminuí o ritmo de cavalgada para que pudessemos nos encontrar mais cedo. E em poucas horas a caravana estava passando por mim.
Eles realmente estavam voltando da capital. Estavam cansados da viagem, mas pareciam felizes pelo comérico. Eles eram de Sembia, e há quase um ano estavam longe de casa, viajando infinitamente pelo continente. Tudo o que sei é que Sembia fica em uma região realmente muito distante. Segundo Richguen, um dos mercadores, que me acolheu muito bem, o que eles queriam agora era voltar a Sembia para viverem tranquilos, já que acumularam uma boa fortuna, a maioria escondida em algumas ruínas abandonadas, das quais só eles sabem a localidade. Richguen devia ter seus 40 anos, tinha o rosto mais enrugado, os cabelos eram castanhos e se misturavam com a barba, ele parecia ter um bom espírito e não se cansava de falar de sua esposa Keite e sua filha Joseille.
A caravana era formada por cinco carroças, todas puxadas com dois cavalos, em cada carroça havia as mercadorias e os bens do mercante, e era na própria carroça onde o mercante dormia. Eles também contrataram dois cavaleiros, que os escoltavam, segundo Richguen eles eram confiáveis e já os acompanhavam faz dois meses.
Richguen pediu para que dormisse na carroça dele, disse que havia espaço suficiente, eu aceitei, já estava muito cansado de dormir ao relento no saco de dormir. E à noite aconteceu outro fato, que deve se tornar mais constante daqui em diante, pois isso é o que vem com as aventuras, pelo menos em todas, cujas histórias são contadas pelos quatro cantos.
Um grupo de goblins achou a caravana à noite, com o acampamento já assentado. Eles ficaram espreitando o nosso grupo durante um tempo. E depois foi muito rápido, eles vieram correndo, gritando, pulando, gunhindo uns sons estranhos que nunca ouvi antes! Eu estava conversando com Rosset, um outro mercante, quando tudo começou a acontecer. No início não sabia bem se eram cinco ou seis goblins, fiquei parado por alguns instantes sem saber o que fazer. Rosset apenas gritou: "Corra garoto!" e subiu em sua carroça, pois, lógico, isso era trabalho para os cavaleiros, Josh e Harold. Josh sacou uma espada e correu numa direção, enquanto Harold esperava os goblins se aproximarem mais com sua lança. Ao longe eu vi Josh deslizando a sua espada horizontalmente, acertando um goblin, que caiu, provavelmente morto.
Enquanto Josh corria em direção a outro goblin, outros três se aproximavam do acampamento Eu estava do lado de fora ainda, observando tudo aquilo. Quando eles chegaram perto o suficiente, Harold girou a sua lança e partiu numa investida contra um goblin. Este goblin teve o ombro perfurado pela lança. Enquanto isso os outros dois correram por longe de Harold. Um deles vinha em minha direção, ele ainda gritava e babava e corria loucamente. Então, quase como de instinto, conjurei uma magia ofensiva. E foi a primeira vez que vi aquela flecha, era um feixe de raio roxo que brilhava bastante, eu o criei, e tão logo foi criado ele voou na direção do goblin, acertando seu peito em cheio e derrubando-o no chão. Eu fiquei fascinado com aquilo, e Richguen que estava me chamando para entrar na carroça também. Quer dizer, acho que ele ficou mais assustado do que fascinado.
Josh matara os outros dois goblins, e o último estava bem no meio do acampamento, quando percebeu que todos seus parceiros haviam morrido. Ele olhou para os lados, fitou-me com uns olhos furiosos, como se eu fosse o único culpado por sua desgraça, depois se virou e viu Harold correndo em sua direção. Porém o goblin se jogou para o lado, esquivando do ataque de Harold, e, tão rápido como conseguia, correu dali.
Isso tudo aconteceu em tão pouco tempo. Mas eu estava mesmo era estupefato com o poder da minha magia. Nunca pensei que poderia ser capaz de matar alguma coisa. E logo vi um monstro cair diante mim. Eu queria me aproximar do goblin morto, mas Richguen me impediu e começou a perguntar várias coisas, as quais não estava nem pensando em escutar. Entretanto percebi que seria inútil qualquer tentativa de me esquivar das suas perguntas, e deixei o corpo do goblin para lá.
Josh e Harold cuidariam dele."
Julius Galanodel

Pé na Estrada

15 de Ches de 1377

"Nem faz tanto tempo assim que parti nessa jornada, eu já esperava que não fosse fácil e, definitivamente, não está sendo fácil. As minhas economias estão se esgotando, agora tenho pouco mais que uma peça de ouro. Mas mesmo assim estou certo de que fiz a melhor escolha. É o certo a se fazer, o mais justo. Não posso viver sem pedir desculpas a Sarah, sem saber como ela está... mesmo que isso signifique não voltar mais a Thay, não ver meus poucos e bons amigos por muito tempo.
Apesar de tudo, ainda não saí da fronteira de Eltabbar, tenho descansado pouco e caminhado muito com um jegue que ganhei do bardo na primeira noite que saí de casa. Eu sei que só poderei descansar mesmo quando abandonar Thay definitivamente Enquanto isso, devo tomar cuidado, meus pais devem ter enviados batedores à minha procura. Se eles me pegassem agora, o que seria de mim? Creio que eles não me entendam e também não entenderiam. Para não deixá-los mais preocupados, escrevi uma carta. Eles devem ter ficado loucos. Mas até que entendo o que fizeram, apesar de não saber realmente se seria essa a minha atitude, caso fosse com um filho meu. Realmente, agora isso não importa mais.
As noites na estrada são frias, o meu saco de dormir ainda está ajudando bastante, mas queria deitar novamente numa cama confortável. Ah! O que posso fazer quanto a isso? Contra o frio, eu junto uns gravetos, e acendo uma fogueira com uma magia. Contra a fome, como o resto da minha ração, tenho para mais dois dias de viagem, de acordo com meus planos, chegarei na próxima vila em meio dia, resta saber se ainda estou bem de matemática. Contra a solidão, eu escrevo em meu diário. E contra os pensamentos ruins, resta-me apenas os sonhos."
Julius Galanodel

O Início

12 de Ches de 1377 - O Ano da Assombração

“Boa noite, amigo. Perguntas-me muito sobre minha vida, e se é o que desejas saber, então contar-te-ei o princípio de minha jornada, que por enquanto possui poucas horas. Deixe-me começar então, não tomarei muito do teu tempo...
Nasci em uma cidade média de Thay, a cidade era governada pelos meus pais e mais alguns membros da aristocracia thayana. A cidade é reconhecida em toda Thay por revelar com frequência grandes magos entre suas crianças, e é grande exportadora de itens mágicos.
Tive uma infância comum às pessoas comuns. E, desde pequeno, apesar da influência de meus pais e meu irmão mais velho, um mago vermelho que faz pesquisas na capital, sou contra a Magocracia de Thay, e todos esses idiotas magos vermelhos, seus sentimentos egoístas e sua prepotência infantil! Perguntas o porquê da revolta? Explicar-te-ei agora...
Quando completei 10 anos, como de praxe, fui enviado a uma escola de magos, para saber do meu potencial como um. Porém, apesar de meus poderes como feiticeiro, o teste não revelou em mim qualquer tendência à magia. E eu ainda me lembro de quando levaram minha melhor amiga, Sarah. O teste dela a apontou com grande tendência à feitiçaria, e ele foi expulsa de Thay, sem a menor explicação a parentes e amigos. Na época eu não entendi nada, mas com o passar do tempo, e com a convivência de meu irmão do meio, Zack, aprendi várias coisas sobre Thay, Toril, alguma ou outra religião, histórias do mundo, itens maravilhosos e até mesmo sobre monstros.
Zack é uma grande pessoa, hoje, francamente, acredito que ele seja mais inteligente que meu pai, ele é um aventureiro de bom coração, coisa que, às vezes, eu mesmo sinto que não sou. Onde Zack está? Se eu soubesse estaria ao lado dele, praticando boas ações e conhecendo o mundo afora. Alguns dias antes de fugir recebi uma carta sua, e pelo que parece ele está maravilhado com todas as coisas, entretanto sente saudades de casa, coisa que acho que nunca irá acontecer comigo.
Continuando, eu estudava regularmente na biblioteca da nossa cidade, apesar de meu pai não gostar que eu fique perambulando pelas ruas da cidade. Nunca entendi, porque ele, como governador, deveria dar um jeito nessas coisas, para que todos possamos sair quando for o nosso desejo, não achas? Hoje eu sei que o medo de meu pai era outro.
Aos 14 anos, eu fiquei assustado quando acordei à noite e fui à cozinha pegar uma fruta para comer, quando, sem mais nem menos uma maçã começou a brilhar. Eu fiquei, primeiramente, bastante assustado, e não havia ninguém ali, pois meus pais estavam numa reunião de magos. Eu não dormi mais aquela noite. Não sabia o que aquilo significava e tinha medo de contar a meus pais o acontecido, sabe-se lá o que eles fariam...
Passei dois dias trancado quarto, sem comer, nem beber nada. A única coisa que me tirou do quarto foi Zack, que chegara de uma aventura nas fronteiras de Thay. Enfim tinha alguém em quem confiar.
Contei-lhe do acontecido, Zack também não entendeu, e disse que provavelmente era uma brincadeira de mau gosto de algum pirralho metido a mago, e disse que ele mesmo já foi alvo de coisas do tipo. Aconselhou-me a voltar a estudar, dizia que meus pais estavam bastante aflitos e não sabiam mais o que fazer. Então, eu segui os conselhos de meu irmão. E em poucos dias conseguir fingir muito bem que havia esquecido.
Foi numa bela manhã, eu estava indo ao mercado, comprar objetos para costurar um livro que faltava pedaços. De repente minhas mãos começaram a ficar frias, eu não sabia o que estava acontecendo. Um frio me subiu a espinha e um raio de gelo saiu da ponta do meu dedo indicador, direto numa rosa. Ela se congelou quase instantaneamente. A moça que a segurava se assustou e soltou a rosa, que quando caiu no chão se espatifou em milhares de pedaços.
Todos na rua assistiram àquela cena, alguns me apontavam como o causador daquela coisa bizarra. Então, eu fugi. Corri como nunca pensei que conseguiria, corri para onde minhas pernas me guiavam.
Cheguei a uma praça vazia, sentei-me, e fiquei a olhar aquela fonte, que sempre adorei, desde criança quando brincava com Sarah, em cima daquela estátua em forma de grifo. Infelizmente, algumas coisas ficam apenas na memória. E então comecei a pensar.
Como os poderosos magos vermelhos conseguiram se enganar?
Eu sei a resposta. É bem simples: eles não estavam enganados. Apenas foram manipulados.
O meu teste não revelara tendências à magia porque ele fora trocado. Trocado pelo teste de Sarah. Sim! Meus pais, eles, os únicos capazes de fazer tal coisa.
Não tente defendê-los, eu teria feito o mesmo, mas não trocaria o meu teste pelo de Sarah, pobre coitada, agora ela está perdida nesse mundo, e é meu dever, minha razão de vida, encontrá-la novamente.
Agora estou cansado. Fugi anteontem daquele inferno que é Thay.
Meus pais devem comandar a cidade, ainda. Isso não mudará tão fácil, pois eles são poderosos e influentes o bastante. Meu irmão mais velho, Khalim, também já é bastante influente, apesar de novo, suas pesquisas só enriquecem os magos vermelhos.
Ótimo! Adorável essa sua canção. Só algo assim para me acalmar, pois comigo carrego apenas minhas armas, uma carta de Zack e dois amuletos, um que ganhei de presente de Sarah, e outro com a foto de meus pais. Não, Khalim é bastante ganancioso para me esquecer dele, e bastante egoísta para querer me recordar.
É tarde, amigo. Amanhã é um novo dia, sempre.
Boa noite.”
Julius Galanodel